Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Bruna Wurts conquista o primeiro ouro feminino do Brasil na patinação artística

Geral

27/07/2019 16h52

LIMA 2019

Bruna Wurts conquista o primeiro ouro feminino do Brasil na patinação artística

Até então, o país tinha o retrospecto de quatro bronzes e uma prata entre as mulheres. No masculino, Gustavo Casado ficou com o bronze

Jogos Pan-Americanos Lima 2019

É inédito. Pela primeira vez o Brasil sobe ao topo do pódio na patinação artística feminina em Jogos Pan-Americanos. O país que liderava a disputa masculina desde 2003 tinha, até o momento, quatro bronzes e uma prata entre as mulheres. A cor da medalha mudou neste sábado (27.07) graças ao desempenho praticamente impecável de Bruna Wurts. Com apenas 18 anos e estreante no evento, a atleta superou a então campeã Giselle Soler, da Argentina, somou 103.17 pontos e viu a bandeira brasileira ser hasteada em Lima.

Bruna com o sorriso de quem 'cravou' o programa longo da patinação artística. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

"Não consigo explicar com palavras. Foi muito tempo de dedicação, abdicação de sair com os amigos, de festa, para fazer dieta, treinar, fazer preparação física. Então esse momento aqui foi indescritível", disse Bruna após a confirmação da medalha de ouro. "O nível da patinação no Brasil está aumentando. Tivemos este ano a primeira campeã mundial em dança, a Gabriella Giraldi, e espero que esta medalha ajude a crescer ainda mais e a ter mais visibilidade", completou.

"Foi muito tempo de dedicação, muita abdicação de sair com os amigos, de festa, para fazer dieta, treinar, fazer preparação física. Então esse momento aqui foi indescritível"
Bruna Wurs, atleta da patinação artística

Bruna estava em segundo lugar após a apresentação do programa curto, na última sexta-feira (26). Com falhas em dois saltos, a brasileira somou 36.70 pontos e terminou o dia atrás da rival argentina. Giselle tinha 38.53 e chegou embalada ao programa longo também pelo título de Toronto 2015. Com uma apresentação forte e consistente, Giselle prometia assustar mais uma vez. No entanto, os giros incompletos nos saltos e uma queda praticamente no final da coreografia abriram espaço para o novo capítulo na história brasileira.

Bruna e Giselle já haviam se enfrentado duas vezes este ano, também com vitórias verde e amarelas. Insatisfeita com o desempenho do primeiro dia, a atleta voltou às pistas disposta a se superar. "Fiquei bem chateada porque não fiz o meu melhor. Hoje eu queria sair feliz da pista, com a sensação de dever cumprido", explicou, contando que ainda precisou superar um treino ruim pela manhã. "Eu não parava em pé hoje no treino. No final consegui me concentrar, conversei com a psicóloga e deu tudo certo", relembrou.

Quinta colocada no Mundial Sênior deste ano e campeã dos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, Bruna começou a colecionar títulos desde muito nova. Patinadora desde os três anos de idade, foi campeã sul-americana aos 11, em sua primeira participação. Agora, quer mais. "Essa medalha só vai me motivar a continuar, a ter mais forças para treinar, para no próximo ano ter mais boas notícias", prometeu.

Além da emoção pelo título, Bruna ainda teve ontem a surpresa de encontrar o pai, Eric Wurts, após a apresentação do programa curto. "Ter meu pai aqui em Lima foi um presentão. Acho que não poderia acabar de maneira melhor", afirmou. A atleta treina e mora na Espanha, acompanhada pela mãe, enquanto o pai fica no Brasil. "Estou explodindo de alegria, é um momento que vai ficar para a vida toda", disse ele, emocionado.

Bronze no masculino

No masculino, Gustavo Casado também tinha a missão de recuperar os pontos perdidos no programa curto, quando terminou com o quarto lugar (44.90 pontos). No entanto, o brasileiro acabou cometendo novos erros e viu o argentino Juan Sanchez confirmar a liderança da prova, com 152.63, seguido pelo norte-americano John Burchfield (133.17). Gustavo somou 128.09 (83.19 no longo), subiu uma colocação e terminou com a medalha de bronze.

"Eu vou ser eternamente grato por essa medalha. Para falar a verdade, a competição não foi do jeito que eu queria. Eu tinha me preparado melhor, estava bem melhor tecnicamente, mas na hora não consegui", lamentou. "Mas a experiência do Pan, que faltava na minha carreira, foi maravilhosa. Estes dias aqui foram muito bons, conviver com outras pessoas, fazer novas amizades, foi uma sensação maravilhosa. Terminar minha carreira com esse bronze vai estar para sempre guardado no meu coração", garantiu Casado.

O patinador tinha estabelecido que os Jogos Pan-Americanos de Lima seriam a última competição da carreira como atleta, para seguir apenas como treinador em Santos (SP). "Estou com 28 anos. Manter a carreira como atleta é muito difícil. Morei muitos anos fora e agora quero voltar para o Brasil, para a minha família", comentou. "Voltei para o Brasil definitivamente em 2015, depois do meu último Mundial, quando também fui bronze. Fiquei dois anos parado e voltei para competir em Cochabamba no ano passado, no Pan, e terminar a carreira", relatou. O patinador é bicampeão mundial júnior, sênior e dos Jogos Sul-Americanos.

Gustavo Casado: bronze foi celebrado, mas com uma certa tristeza por não ter conseguido desempenhar o melhor que podia. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Problemas técnicos

Em Lima, Gustavo precisou enfrentar problemas técnicos para chegar ao pódio. No treino e antes da competição no programa curto, a peça que prende o freio à base dos patins quebrou. "A gente saiu para comprar peça no primeiro dia, para fazer uma gambiarra e prender, mas não ficou totalmente preso. No dia da competição, forcei mais um pouco para ver se o freio ficava firme, e estourou de novo. As meninas já estavam entrando para competir e eu saí correndo para comprar mais peça. Voltei, prendi, coloquei o patins e entrei para competir. A cabeça fica a mil", relatou.

O nervosismo acabou se refletindo na pista. Tecnicamente superior a todos os rivais, Gustavo não conseguiu executar os elementos corretamente e, já prejudicado pela nota do programa curto, nem acreditou que chegaria ao pódio. "Achei que não ia dar mesmo, mas milagres acontecem", brincou. O brasileiro ainda precisou aguardar a apresentação de outros dois atletas para confirmar a medalha. "Para mim o Pan foi muito importante. Como eu já tinha títulos mundiais, era o que faltava na minha carreira. Para mim é como se fosse uma Olimpíada", comparou. A patinação artística não integra o programa dos Jogos Olímpicos de Verão.

infografico_pan2019_atualizado_25072019.jpg

Ana Cláudia Felizola, de Lima, no Peru – rededoesporte.gov.br