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Futebol5

04/09/2021 07h38

Futebol de cinco

Brasil vence Argentina, chega ao penta e segue como único dono dos ouros no futebol de cinco

Placar de 1 x 0 garantiu o quinto título consecutivo da equipe. Vigésimo segundo ouro decreta ainda a melhor campanha do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos

Um chutaço de perna esquerda de Nonato entrou no ângulo esquerdo do goleiro Lencina aos 13 minutos do segundo tempo e decretou a manutenção da maior das hegemonias do esporte paralímpico. O Brasil conquistou o quinto título consecutivo do futebol de cinco, esporte exclusivo para deficientes visuais. Desde que a modalidade entrou no programa, nos Jogos de Atenas, em 2004, o único hino nacional executado na cerimônia de premiação é o do Brasil. 

"O nosso time é um conjunto muito forte. Valoriza demais o coletivo. Um ajuda o outro. Quando um sai e outro entra, não cai a qualidade. Essa hegemonia é resultado de trabalho coletivo"
Nonato, artilheiro do time, com seis gols

O gol de Nonato é o de número 54 na história do Brasil em Jogos Paralímpicos, em 27 partidas disputadas, com 21 vitórias, seis empates e nenhuma derrota sofrida. Na campanha de ouro em Tóquio, foram cinco jogos contando com a decisão, com cinco vitórias, 12 gols marcados e nenhum sofrido.

"O nosso time é um conjunto muito forte. Valoriza demais o coletivo. Um ajuda o outro. Quando um sai e outro entra, não cai a qualidade. Essa hegemonia é resultado de trabalho coletivo", afirmou Nonato, artilheiro do Brasil na competição, com seis gols, e terceiro maior goleador do campeonato. O título de artilharia ficou com o marroquino Zouhair Snisla: oito gols. O Marrocos terminou com o bronze.

O penta representa mais. Ele traz ao Brasil a medalha de ouro de número 22 nos Jogos de Tóquio, e decreta de vez que a campanha da delegação no Japão é a mais expressiva da história do Brasil em Paralimpíadas. O marco anterior eram os Jogos de Londres, em 2012. De lá, o Brasil saiu com 21 ouros.  

Foto: Alê Cabral/ CPB

Balança enviesada

O confronto entre Brasil e Argentina é um dos mais comuns na história do futebol de cinco em decisões. As duas equipes estão frequentemente entre as melhores do planeta. O retrospecto é amplamente favorável ao Brasil. Das 21 finais entre as duas equipes, que incluem Copa do Mundo, Paralimpíada, Parapan, Copa América e torneios menores, o Brasil ganhou 18 com a deste sábado, 04.09, na arena do Parque Urbano de Aomi. Os únicos vices foram no Mundial de 2006 e nas edições de 2005 e 2017 da Copa América.  

"O nome de tudo isso é trabalho. Muita entrega, união da galera. Esforço do começo ao fim. É difícil se manter lá em cima numa competição que só ocorre a cada quatro anos. É algo diferente. A entrega que temos aqui é intensa, e não que os outros não se entreguem, porque você vê que eles saem cansados, brigando até o fim, é sempre difícil. Mas a gente tenta trabalhar muito para se manter acima", afirmou Tiago Paraná, autor de um gol na campanha e campeão também nos Jogos Rio 2016.   

Gol do título narrado pelo artilheiro do campeonato?? TEMOS!! Confira a perspectiva única de Nonato sobre o GOLAÇO que valeu o 5º OURO 🥇 brasileiro do #FutebolDe5 nos #JogosParalimpicos ! #Orgulho 🇧🇷 #Tokyo2020 pic.twitter.com/THSvtBSt4Q

— Rede do Esporte (@RedeDoEsporteBr) September 4, 2021

 

"O Brasil é o time a ser batido. Estudam muito a gente. Filmam os jogos. A gente sabe desse favoritismo, mas deixamos fora. É o que digo a eles todo dia: 'a gente vive de alto rendimento, a gente não pode viver de passado. A gente anda para frente, para o futuro'"
Fábio Vasconcelos, técnico da seleção de futebol de cinco

Para o técnico Fábio Vasconcelos, o segredo para manter uma hegemonia de tanto tempo é pensar sempre à frente, no futuro, e não deixar os feitos do passado contaminarem o esforço que precisa ser feito. "O Brasil é o time a ser batido. Todo mundo quer ganhar do Brasil. Estudam muito a gente. Filmam muito os jogos. A gente sabe desse favoritismo, mas deixamos fora. É o que digo a eles todo dia: 'a gente vive de alto rendimento, a gente não pode viver de passado. A gente anda para frente, para o futuro'", explica.

Outra característica apontada pelo treinador é a variabilidade de opções táticas que o time apresenta. "O pessoal estudava muito Ricardo e Jefinho na frente, mas hoje temos um goleiro bom, uma defesa muito forte e um ataque com variação. Temos o Jardiel, o Nonato, jogadores fortes, que jogam na área e caem na ala e marcam bem. O Paraná também nos dá variações", comentou o treinador.  

Ricardinho, por sua vez, apontou questões que transcendem às quatro linhas do campo. "Nessa hora da medalha o destaque cai nos atletas, mas temos uma comissão por trás que é maravilhosa. Hoje, por exemplo, o nosso time sobrou fisicamente. Há todo um trabalho de excelência e é por isso que o resultado vem. Nossa nutricionista faz um trabalho espetacular. Todos esses profissionais fazem parte desse ouro".

CAMPANHA DO BRASIL

Fase de grupos
Brasil 3 x 0 China
Brasil 4 x 0 Japão
Brasil 4 x 0 França

Semifinal
Brasil 1 x 0 Marrocos

Final
Brasil 1 x 0 Argentina

Forma de jogo

Modalidade exclusiva para atletas cegos ou com deficiência visual, o futebol de 5 é praticado em uma quadra com dimensões iguais a do futsal, mas geralmente com grama sintética. O goleiro tem visão total e só pode atuar dentro da área ao redor do gol. Junto às linhas laterais, são colocadas bandas que impedem que a bola saia do campo. As partidas têm dois tempos de 20 minutos, cronometrados apenas quando a bolsa está rolando. 

A bola tem guizos internos para que os atletas consigam localizá-la e a torcida só pode se manifestar na hora do gol. Os jogadores usam uma venda nos olhos para evitar qualquer vantagem dos que apresentem percepção luminosa. Há, ainda, um guia (chamador) que fica atrás do gol adversário para orientar os atletas do seu time. Ele diz onde os jogadores devem se posicionar em campo e para onde devem chutar. O técnico e o goleiro também auxiliam em quadra.

Alê Cabral/ CPB

Investimento

Os dez convocados para a seleção brasileira em Tóquio são atualmente contemplados pelo Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro. O investimento direto nesse grupo, no ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, foi de R$ 1,16 milhão, garantido via Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

No ciclo paralímpico dos Jogos de Tóquio, o Ministério da Cidadania investiu R$ 2,68 milhões no futebol de 5 por meio do Bolsa Atleta. Entre 2017 e 2021, foram concedidas 145 bolsas em todas as categorias para os atletas da modalidade.

História

O futebol de 5, ao que tudo indica, surgiu na Espanha, por volta da década de 1920. No Brasil, há indícios de que era praticado durante a década de 1950 por cegos que jogavam com latas. Durante as Olimpíadas das APAEs, em 1978, foi organizado, na cidade de Natal (RN), o primeiro campeonato da modalidade.

Em 1984, ocorreu a primeira Copa Brasil, em São Paulo. Posteriormente, a seleção brasileira participou de edições da Copa América, conquistando o ouro em 1997, 2001 e 2003. Em 1998, o Brasil foi campeão do primeiro Mundial, realizado em Paulínia (SP).

A participação do futebol de 5 nos Jogos Paralímpicos aconteceu, pela primeira vez, em
Atenas 2004. Se existe um “Dream Time” nas Paralimpíadas, esse é a seleção brasileira,
que conquistou todas as medalhas de ouro disputadas até hoje. Além do título na Grécia, o Brasil ganhou as disputas em Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016.

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br