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Atletismo

16/08/2016 12h50

Handebol

Brasil tem apagão no segundo tempo, repete Londres e cai nas quartas do handebol feminino, desta vez diante da Holanda

Aproveitamento de apenas 41% na segunda etapa definiu a derrota por 32 x 23 na partida disputada na Arena do Futuro

A frieza dos números não capta, muitas vezes, o tamanho da frustração de uma eliminação olímpica. Principalmente para uma equipe que tinha todos os elementos para chegar, pela primeira vez na história do handebol feminino brasileiro, a uma semifinal. Mas o placar incontestável de 32 x 23 para a Holanda (12 x 11 no primeiro tempo), na manhã desta terça-feira (16.08), na Arena do Futuro, é um dos sintomas de que as estatísticas ajudam a mostrar que a apresentação no mata-mata das quartas de final foi longe do que o time do técnico Morten Soubak costuma apresentar.

"Eu sinto muito, pelo esforço para chegar longe e pelo orgulho de jogar em casa. Na fase de grupos mostramos que tínhamos condições de brigar pela medalha e na hora decisiva não conseguimos. Isso vai doer por muito tempo"
Morten Soubak

"Eu sinto muito, pelo esforço para chegar longe e pelo orgulho de jogar em casa. Na fase de grupos mostramos que tínhamos condições de brigar pela medalha e na hora decisiva não conseguimos. Isso vai doer por muito tempo", frisou o treinador dinamarquês.

A dor da eliminação em casa estava estampada no rosto das jogadoras. A campanha na primeira fase aumentou as esperanças da equipe. A imagem da medalha no peito, diante de uma torcida que apoiou intensamente o time era o sonho que se desfez. Uma decepção que marca o adeus à seleção para várias atletas, como Mayssa Pessoa. "Triste, porque para mim era a grande oportunidade de ganhar uma medalha. Essa equipe tinha tudo para isso. Minha última vez, vou me retirar da seleção e com esse sentimento horrível. A gente sofreu tanta coisa para chegar até aqui. Muitas já ganharam Champions League, com os clubes da Europa, Mundial e só faltava esse aqui", disse a goleira, que esperava uma despedida no pódio olímpico.

Outra atleta que deixa a seleção é Dani Piedade, que pretende seguir contribuindo com o handebol, agora fora das quadras. Para ela, pelo menos dez equipes na disputa dos Jogos Rio 2016 teriam condições de subir ao pódio e, apesar de não ser favorito, o Brasil tinha a seu favor o fato de ter a torcida ao lado. "Aqui era uma grande chance, porque jogar em casa tem sempre uma coisa a mais", disse a pivô. "Jogar em casa foi incrível, o público sempre nos apoiou. Aqueles que não conheciam o handebol, tenho certeza que se apaixonaram e vão acompanhar cada vez mais", projetou.  

O ataque brasileiro, costumeiramente criativo e consistente, pecou nos arremessos. Converteu 12 de 29 tentativas, um percentual de 41%. As holandesas, que estreiam em Jogos Olímpicos mas trazem no currículo a medalha de prata conquistada no Mundial disputado no ano passado, acertaram 20 de 27 chances na segunda etapa, ou 74% das oportunidades.

Levando em conta o jogo como um todo, as europeias tiveram 70% de eficiência, contra 46% das brasileiras. Individualmente, Fernanda, pelo Brasil, e Estavana Polman, pela Holanda, foram as principais goleadoras, cada uma com sete gols anotados. 

Holandesas comemoram vitória sobre a equipe brasileira. Em destaque, Dani Piedade. Foto: Getty Images

Um desses números diz respeito ao tempo em que o Brasil atuou com uma atleta a menos em quadra. Foram seis suspensões de dois minutos, contra duas das holandesas. Ou 12 minutos de um total de 60, contra quatro.

"Fico triste, porque para mim era a grande oportunidade de ganhar uma medalha. Essa equipe tinha tudo para isso. Foi minha última vez, vou me aposentar da seleção e com esse sentimento horrível"
Mayssa Pessoa

"Nós fizemos apenas um gol em oito minutos de jogo. Eu pedi tempo, porque achava que estávamos jogando presos. Conseguimos voltar para o jogo e fomos para o intervalo com um gol de desvantagem, que no handebol está ótimo. Fizemos um novo plano para o segundo tempo e aconteceu o que não podia. Acabamos de entrar em quadra e a Duda tomou dois minutos. O placar abriu de novo e ficamos presos de novo. Acho que o grande números de dois minutos que tomamos o jogo inteiro atrapalhou muito. Fora isso, não conseguimos fazer gols. O ponto mais forte da Holanda é a velocidade, se você não faz gol, vai tomar, exatamente isso que aconteceu. Não atacamos tão bem quanto nos outros jogos e isso fez a diferença", analisou Soubak.

A Holanda encaixou uma marcação diferente das que o Brasil enfrentou na primeira fase, parou os ataques com falta e não deixou o time da casa atuar com facilidade pelas pontas. O treinador Henk Groener elogiou a postura de suas comandadas e disse que a grande diferença no placar se deve ao fato de que as brasileiras tiveram que se arriscar, principalmente no fim da partida. "Estou muito orgulhoso porque executamos o plano de jogo. Sabíamos que o Brasil é uma equipe difícil, que fez uma campanha ótima na primeira fase, com jogadoras fortes. Fizemos um bloqueio muito sólido e não demos chances para o Brasil fazer gols fáceis. Eu concordo que a grande diferença no placar foi porque eles tiveram que arriscar. Mantivemos o foco e fizemos um jogo muito bom hoje".

Futuro

Com a decisão de algumas atletas se aposentarem, uma geração que alcançou seu ápice com a conquista do Mundial em 2013, está dando lugar a outra, igualmente promissora. "Eu acho que o handebol está popular, estamos jogando handebol em quase todas as escolas, o que é muito importante. O time de base feminino treinou muito forte para o Mundial, fomos ver muitas meninas com muito potencial, algumas que vamos chamar para a seleção principal. Espero que o handebol possa mostrar seu desenvolvimento em qualquer lugar do Brasil. Existem os Jogos Escolares, que acompanhamos, e de lá saem bastante jogadores, tanto no masculino como no feminino, que tenho certeza que vão ter grande futuro", ressaltou Soubak, que destacou ainda a importância que as atletas que seguem na equipe terão para esta transição e o legado deixado por aquelas que se aposentam.

Dani Piedade espera que as conquistas de sua geração sirvam para que a modalidade cresça. "Nós tivemos muitas conquistas, mas uma geração nova está vindo, o trabalho vai continuar e elas vão dar máximo para que a nossa modalidade cresça cada vez mais".   

Campanha

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Defesa brasileira teve grande dificuldade de parar o ataque das holandesas, em especial no segundo tempo. Foto: Getty Images

A campanha das duas equipes durante os Jogos Olímpicos do Rio dava a entender que os fantasmas passados poderiam ser exorcizados um a um. O Brasil terminou em primeiro lugar em um grupo poderoso. A estreia, contra as campeãs mundiais e olímpicas da Noruega, terminou com vitória brasileira por 31 x 28. Na sequência, o time superou a Romênia, que havia eliminado a seleção do último Mundial, por incríveis 26 x 13. Em seguida, um tropeço diante da Espanha (29 x 24) e a vitória sobre Montenegro, por 29 x 23.

A Holanda, por sua vez, se classificou com uma campanha altamente irregular e com o quarto lugar no Grupo B da competição. A equipe perdeu para a Rússia (34 x 38), para a França (14 x 18), empatou com Suécia (29 x 29) e Coreia do Sul (32 x 32) e tinha vencido, até então, uma única partida na competição, contra a Argentina (26 x 18).

Com o resultado, a equipe brasileira, que vinha neste ciclo de um título mundial conquistado em 2013, na Sérvia, se despede dos Jogos com uma campanha que iguala os melhores resultados do time, obtidos nas campanhas de Atenas (2004) e de Londres (2012), quando também caiu nas quartas de final olímpica. 

Gabriel Fialho e Gustavo Cunha, brasil2016.gov.br