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Bocha

01/09/2021 01h34

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Brasil fecha as provas individuais da bocha com bronze em dose dupla

Maciel Santos fica em terceiro na BC2 e dedica medalha ao amigo Dirceu Pinto, campeão paralímpico da bocha, que faleceu em 2020. Carlos Chagas conquista o pódio na BC1

Os brasileiros Maciel Santos (classe BC2) e Carlos Chagas (classe BC1) levaram a melhor nos confrontos realizados nesta terça-feira (31) pela medalha de bronze nas provas individuais da bocha nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Nos confrontos disputados na Arena de Ariake, Maciel venceu o tailandês Worawut Saengampa por 4 x 3 e Chagas bateu André Ramos, de Portugal, por 8 x 2.

Com a “bola da vida”, Maciel, campeão individual em Londres 2012 e medalhista de prata nos pares em 2016, fechou a partida contra o atual campeão mundial e vice-campeão dos Jogos Rio 2016. Nos dois primeiros “ends”, o brasileiro abriu 3 x 0, com parciais de 1 x 0 e 2 x 0. Saengampa reagiu e marcou 3 x 0 no terceiro dos quatros games para igualar o duelo em 3 x 3. O resultado levou a decisão para o 4º end, com resultado alcançado somente no último arremesso.

Maciel fez uma partida impressionante precisa para conquistar o bronze. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

“Era a bola da minha vida e só eu podia mudar aquela situação. Não podia deixar escapar”, resume o cearense de Crateús, um dos grandes nomes do cenário internacional da classe BC2 da bocha paralímpica, campeão no individual e vice por equipes nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019.

De acordo com ele, a vitória é resultado de um trabalho minucioso que a equipe de análise e desempenho da seleção brasileira tem feito desde 2016. “Nós estudamos muito esse atleta e vim com uma estratégia preparada, que consistiu em colocar a bola mais para o fundo para explorar ao máximo a precisão dele".

“Era a bola da minha vida e só eu podia mudar aquela situação. Não podia deixar escapar. Nós estudamos muito esse atleta e vim com uma estratégia preparada, que consistiu em colocar a bola mais para o fundo para explorar ao máximo a precisão dele"
Maciel Santos

Questionado sobre o sabor da conquista em Tóquio, o brasileiro afirmou que vale mais do que o ouro, já que traz a real dimensão do nível de preparação e aponta o que deve ser feito para estar no pódio em Paris 2024. “O ouro poderia mascarar, mas o bronze coroa o que preciso melhorar, o que preciso fazer para chegar a Paris preparado para lutar pelo ouro”, explica.

Emocionado, o atleta dedicou a conquista ao amigo Dirceu Pinto, cinco vezes medalhista paralímpico pela bocha, que morreu em 2020 em decorrência de problemas cardíacos. “Eu saio dessa batalha com a missão cumprida. Em 2012 o meu propósito era mudar a minha vida. Em Tóquio a meta era honrar primeiramente a Deus e em segundo o meu amigo Dirceu”.

Pinto era bicampeão paralímpico individual da modalidade, com quatro ouros entre os Jogos de Pequim 2008 e Londres 2012, no simples e nas duplas, além de uma prata por equipes nos Jogos Rio 2016. Também conquistou dois ouros no Mundial de 2010 e uma prata no Mundial de 2014.

Carlos Chagas celebra a sua primeira medalha em Jogos Paralímpicos. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

A primeira a gente nunca esquece

Já Carlos Chagas não deu chance para o português André Ramos, impondo cinco pontos no segundo end, após perder o primeiro por 2 x 0. No jogo que fechou em 8 x 2, o brasileiro ainda marcou 2 x 0 e 1 x 0 nos 3º e 4º games. “É uma emoção gostosa demais. Eu queria levar a de ouro, mas agradeço a Deus por essa conquista. Para mim vale ouro”, celebra o atleta que está na terceira participação em Jogos. Ele integrou o time nas edições de Londres 2012 e Rio 2016.

Prata no individual e por equipe nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019, ouro no individual e por equipes nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto 2015 e bronze no individual nos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara 2011, o atleta paralisado cerebral e com severo comprometimento motor, iniciou na bocha aos 26 anos.

Bocha no pódio

Com as conquistas até o momento em Tóquio, a modalidade acumula 11 medalhas em Paralimpíadas, sendo seis de ouro, uma de prata e quatro de bronze. O time brasileiro ainda tem pela frente no Japão as disputas por equipe nas classes BC1/BC2, BC3 e BC4, o que pode aumentar o saldo.

“Nossa equipe é a terceira do ranking mundial. A expectativa é ganhar mais uma medalha aqui. Não importa a cor. O importante é buscar mais um pódio para a gente fortalecer a bocha brasileira no cenário internacional”, destaca o atleta que disputa pela classe BC1/BC2. Os jogos por equipe têm início no dia 1º de setembro e seguem até o dia 04.

Bocha - Jogos Paralímpicos de Tóquio

Investimento

Os 11 convocados para a seleção em Tóquio, maior delegação do país na bocha na história dos Jogos, são atualmente contemplados pelo Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro. O investimento direto nesse grupo, no ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, foi de R$ 3,04 milhões, garantido via Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

Dos 11 bolsistas, seis integram a categoria Pódio, a principal do programa, voltada para quem se qualifica entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade. A categoria Pódio prevê repasses que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais de acordo com os resultados esportivos dos atletas.

No ciclo dos Jogos de Tóquio, o Ministério da Cidadania investiu R$ 5,03 milhões na bocha paralímpica por meio do Bolsa Atleta. Entre 2017 e 2021, foram concedidas 193 bolsas em todas as categorias para os atletas da modalidade.

Classificação

Os atletas da bocha competem em cadeira de rodas. Na classificação funcional, eles são divididos em quatro classes, de acordo com o grau da deficiência e da necessidade de auxílio ou não. No caso dos atletas com maior grau de comprometimento, é permitido o uso de uma calha para dar mais propulsão à bola. Os tetraplégicos, por exemplo, que não conseguem movimentar os braços ou as pernas, usam uma faixa ou capacete na cabeça com uma agulha na ponta. O calheiro posiciona a canaleta à sua frente para que ele empurre a bola pelo instrumento com a cabeça.

Cynthia Ribeiro, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br