Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Brasil conquista ouro inédito no revezamento 4 x 100m para deficientes visuais

Atletismo

13/09/2016 16h03

Atletismo

Brasil conquista ouro inédito no revezamento 4 x 100m para deficientes visuais

Diogo Ualisson, Gustavo Araújo, Daniel Silva e Felipe Gomes ainda estabeleceram novo recorde paralímpico no Engenhão, com o tempo de 42s37

Equipe comemora a vitória histórica e o recorde paralímpico. Foto: Alaor Filho/MPIX/CPB

O Brasil pode se orgulhar de ter os velocistas com deficiência visual mais rápidos do mundo. Na manhã desta terça-feira (13.09), sexto dia de competições do atletismo no Rio 2016, Diogo Ualisson, Gustavo Araújo, Daniel Silva (com o atleta-guia Heitor Sales) e Felipe Gomes (com o atleta-guia Jonas Silva) se tornaram os primeiros campeões e recordistas paralímpicos do país no revezamento 4 x 100m T11-13, no Estádio Olímpico, o Engenhão.

A velocidade dos atletas fez com que a torcida quebrasse o protocolo de silêncio obrigatório em uma prova para deficientes visuais. Nem adiantou o pedido da organização no alto-falante e no telão, pois ver o Brasil na frente durante a prova toda foi emoção demais para o público no estádio. Crianças de escolas públicas também estavam na arquibancada e puderam testemunhar o feito histórico em Jogos Paralímpicos.

Tudo começou com Diogo, o mais jovem da equipe (23 anos). O atleta da classe T12 (baixa visão) partiu sozinho contra rivais da classe T11 (cego total), e entregou o bastão com boa vantagem na liderança. Ali o silêncio das arquibancadas já se rompeu e não voltou mais.

Gustavo Araújo, da classe T13 (menor grau de lesão nos olhos), veio logo em seguida. Não deixou o bastão cair, nem tampouco a vantagem sobre chineses e uzbeques. Ele ficou em oitavo na prova individual dos 100m de sua categoria, mas correu como campeão antes de passar para o terceiro velocista. Presente perfeito, um dia antes de seu aniversário.

Aos 37 anos, Daniel Silva já veio com mais experiência no revezamento: tem dois títulos mundiais nos 400m e a prata em Londres 2012 nos 200m, tudo na classe T11. Correu ao lado do guia Heitor Sales e mostrou por que tem um currículo tão forte no atletismo paralímpico. O Brasil seguia na frente na passagem do bastão para o corredor mais rápido da equipe.

Felipe Gomes foi campeão dos 200m T11 em Londres 2012 e prata nos 100m no Rio 2016. Ao lado do guia Jonas Silva, ele tinha uma ampla vantagem que rendeu o recorde paralímpico para a equipe do Brasil. Com 42s37, de ponta a ponta, a equipe venceu a China (43s05, prata) e o Uzbequistão (43s47, bronze). Pouco antes da chegada, até o próprio narrador do Engenhão desistiu dos pedidos de silêncio e vibrou com a torcida.

Felipe Gomes esteve na equipe desclassificada em Londres e Pequim e hoje viveu a redenção com o ouro em casa. Foto: Alaor Filho/MPIX/CPB

Redenção

Uma medalha de redenção, principalmente para dois membros da equipe. Daniel e Felipe estavam no revezamento que foi desclassificado ainda na eliminatória dos Jogos Paralímpicos de quatro anos atrás, com André Andrade e Lucas Prado, por um erro na passagem do bastão. Felipe também passou por isso em Pequim 2008, devido à mesma infração.

Daniel confessou que tinha isso em mente quando chegou à pista do Engenhão. “Nosso revezamento estava engasgado na nossa garganta há algum tempo. (A medalha) não podia vir de forma melhor: em casa, em uma plena terça, lotando esse estádio para nos prestigiar e aguardando nosso melhor, porque nós nos propusemos a isso, então nossa alegria é grande”, contou.

Um resultado inédito, mas que constava nos planos da equipe brasileira, segundo Felipe. “Dever cumprido. Nós nos unimos, conversamos e pensamos em correr não só pela gente, mas por quem vinha na frente, pelo próximo. Tínhamos esse objetivo não só de ganhar a medalha de ouro, mas também quebrar o recorde. Acreditamos nesse sonho, fomos pra dentro e cumprimos o objetivo”, afirmou. Até agora, ele e Petrucio Ferreira dividem o melhor desempenho individual no atletismo da Rio 2016, com um ouro e uma prata cada um.

Receita do sucesso

Numa competição coletiva, em que os mínimos detalhes entre companheiros fazem a diferença, a harmonia entre os integrante da equipe foi vital para o triunfo do revezamento brasileiro. Gustavo Araújo conta que, para ter um timing perfeito, é importante ter uma energia perfeita entre os velocistas, que competem juntos desde o Parapan de Toronto-2015.

“Somos amigos fora da pista também, um liga para o outro, manda mensagem para o outro. Temos grupos de redes sociais juntos, e isso começa aí também, né? Chega na hora lá, um dá um abraço no outro e fala ‘estou confiando em você’. Na hora da corrida rolando, mesmo com o estádio gritando, a gente só consegue escutar a voz do amigo, do parceiro”, comentou.

Parte da alegria da equipe é embalada por um ritmo tipicamente carioca: o funk, já que Diogo Ualisson mora próximo a um local que recebe bailes. Ele conta que a comemoração no pódio foi ensaiada, com dança da música “Malandramente”, do MC Nandinho, especialmente na parte da letra que diz “Nois se vê por aí”.

“Como a gente fica brincando, em vez de ser os backstreet boys, somos os backfavela boys!”, disse Gustavo, aos risos.

Alegria e funk no pódio. Foto: Alaor Filho/MPIX/CPB

Outras provas

Destaque também para uma quebra de recorde mundial, logo na primeira final desta manhã. Com tempo de 1m00s53, Georgina Hermitage, da Grã-Bretanha, melhorou em um décimo a marca que já era dela, e faturou o ouro nos 400m rasos T37 (paralisados cerebrais). Outro recorde mundial saiu no lançamento do dardo F46 (amputados) para a também britânica Hollie Arnold (43.01m).

Nos 100m T51 (competidores em cadeiras), Peter Genyn quebrou o recorde paralímpico (21s15), assim como Walid Ktila, da Tunísia, na classificatória dos 800m T34 (paralisados cerebrais), com 1m46s28. A marca foi superada na bateria seguinte por Mohamed Alhammadi, dos Emirados Arabes Unidos (1m44s96).

Rodrigo Vasconcelos e Pedro Ramos, brasil2016.gov.br