Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Brasil alcança feito inédito, vence a Coreia do Sul e é ouro na classe BC3 da bocha

Atletismo

13/09/2016 01h51

Jogos Rio 2016

Brasil alcança feito inédito, vence a Coreia do Sul e é ouro na classe BC3 da bocha

Na outra final com representantes do país, brasileiros perdem para a Eslováquia e ficam com a prata. Atletas comemoram desempenho por equipes e divulgação da modalidade

Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Prazer, somos da bocha! Os atletas brasileiros apresentaram o esporte, pouco conhecido para a maioria do público, em grande estilo: ouro e prata nas finais por equipes nesta segunda-feira (12.09). O país chegou em duas das três decisões possíveis nos pares e mostrou sua força na modalidade. Na disputa da classe BC3, os estreantes paralímpicos Antônio Leme, Evelyn Oliveira e Evani Soares surpreenderam a favorita Coreia do Sul para conquistar o resultado inédito na categoria.

A dimensão do feito não cabia na Arena Carioca 2. Fernando Leme, calheiro de Antônio, o levantou da cadeira de rodas nos braços, o ergueu para a torcida e depois rolou no chão com ele, extravasando as emoções de um jogo decidido na última bola e com controvérsias com a arbitragem. “Eu que pedi”, revela Antônio sobre o gesto do irmão.

Fotos: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Os asiáticos são comparados aos Estados Unidos no basquete, ou à China no tênis de mesa, quando se trata da classe BC3, em que os competidores são ajudados por assistentes para realizar os lançamentos, os chamados calheiros. “A gente treina e trabalha para o ouro, mas, ganhar da Coreia do Sul foi demais. Eles são os nossos exemplos. A gente segue muita coisa que eles fazem”, explicou Renata Santos, auxiliar e amiga de Evani.

A união do time também se fazia presente na mistura de sensações comuns ao trio, expressas na surpresa de Antônio: “Eu não estou acreditando. O Brasil é ouro!”, na alegria de Evelyn: “É fantástico ter essa oportunidade de jogar aqui no Brasil, a experiência de enfrentar os melhores e ter esta partida incrível, estou extremamente feliz”, e na gratidão de Evani: “Ganharmos esse presente, o ouro, é uma sensação única”.

Fernando e Antônio se preparam para o lançamento. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

Logo no primeiro end (similar ao set no tênis ou no vôlei), os brasileiros fizeram 3 x 0, ou seja, o time da casa conseguiu deixar três bolas mais perto da branca (jack) do que a mais próxima bola dos sul-coreanos. Nos dois ends seguintes, os asiáticos fizeram 1 x 0 e encostaram. Foi no período decisivo que ocorreu uma polêmica com a arbitragem do argentino Adrian Altuna.

O juiz decidiu penalizar a equipe do Brasil, alegando que a calha de Evelyn não havia sido movida antes do lançamento, o que é proibido, pois pode significar que a mira para o arremesso já estava pronta. Além de não concordar com a decisão, que paralisou o jogo por alguns minutos, os donos da casa reclamaram de o juiz mover as bolas com as mãos para a posição anterior à jogada da brasileira.

“A gente ficou um pouco indignado no momento. Segundo o Antônio e a parceira, foi uma decisão equivocada do árbitro. Aí a Evelyn chamou ele e disse: ‘Vamos jogar!’”, revela Fernando. Com a punição, os sul-coreanos ganharam duas bolas a mais para arremessarem. Como os calheiros ficam de costas para a quadra e não podem olhar os lançamentos para evitar interferências, a agonia para eles foi ainda maior durante as bolas "extras" dos oponentes.

“Se já é difícil para ele que estava vendo, imagina para mim que estava de costas. Fiquei ali, escutando o barulho da torcida. A cada barulho era um erro deles, mais um barulho, mais um erro, até que acabaram as bolas e a medalha era nossa”, conta Fernando, aliviado com o 2 x 0 no último end e o 5 x 2 no placar final. 

Bocha - Jogos Paralímpicos Rio 2016 - 12.09.2016

O outro lado

Se o Brasil aprendeu com os sul-coreanos para vencê-los, o país viveu a sensação inversa quando enfrentou a Eslováquia na final da classe BC4. Bicampeão paralímpico da categoria nas edições de Pequim 2008 e Londres 2012, o time brasileiro foi derrotado pelos europeus. Formada por Dirceu Pinto e Eliseu Santos, que participaram das campanhas de ouro nas edições passadas dos Jogos, a equipe foi completada pelo estreante em Paralimpíadas Marcelo Santos, irmão de Eliseu. 

Destaque da Eslováquia, Samuel Andrejcik confessa a idolatria pelo brasileiro Dirceu, o que também ajuda a explicar a grandeza da vitória eslovaca. “É um sentimento incrível vencer o Brasil nas Paralimpíadas. Vi vários jogos do Dirceu nas Paralimpíadas de Pequim 2008 e Londres 2012, além de outros torneios, e ele dificulta muito a vida dos adversários. Aprendi muito vendo como ele joga”.

Samuel Andrejcik (à esq.), destaque do time eslovaco, tem como ídolo no esporte o brasileiro Dirceu. Foto: Danilo Borges/brasil2016.gov.br

“O Samuel vem crescendo muito nos últimos dois anos. No Open no mês passado, em Portugal, ele foi campeão. Vamos dizer que ele varreu todo mundo, ganhou de mim, do Eliseu... Sabíamos da capacidade dele”, analisa Dirceu, que foi reserva na final por decisão dos treinadores. A estratégia foi apostar nos irmãos Marcelo e Eliseu, mais fortes em bolas longas, características dos eslovacos. 

“Eliseu e Marcelo são excelentes atiradores de bola de fundo. É que hoje foi o dia da Eslováquia. Eles tiraram o nosso ponto na última bola do segundo end e no quarto, o Samuel jogou uma bola perfeita”, completou Dirceu. 

Dirceu (à dir) mostra a felicidade que sentiu com a conquista da prata em casa. Foto: Danilo Borges/Brasil2016.gov.br

O Brasil fez 2 x 0 no primeiro end, mas os europeus devolveram o placar no segundo e levaram os dois seguintes por 1 x 0, fechando o placar em 4 x 2. Mesmo acostumados ao topo do pódio, os brasileiros da BC4 valorizaram muito o vice-campeonato e a oportunidade de projetar a bocha no país. "Estamos felizes com a prata que também é um resultado excelente. Nossa meta era o pódio e divulgar a bocha no Brasil, para que outras pessoas vivam seus sonhos e saiam de suas casas", prossegue Dirceu.

A bocha, modalidade exclusiva do programa paralímpico, reúne pessoas com paralisia cerebral ou deficiências severas. Para Evani, os atletas mostraram que as dificuldades não podem ser imposições para as pessoas se encerrarem. “O importante é mostrar que nada é impossível. Existem atletas com mobilidade mais reduzida que a nossa e eles jogam. A gente mostra que não é para ninguém ficar em casa, que devemos correr atrás dos sonhos, buscar os nosso desejos. Eu consegui fazer faculdade e agora estou no esporte”.

“Eu sou um exemplo disso. O esporte foi uma ferramenta transformadora na minha vida, eu vivia essa realidade da pessoa com deficiência dentro de casa, só família e estudo, sem muito contato com a sociedade. Quando passei a praticar o esporte descobri que os limites que eu acreditava que tinha, na verdade não existiam e passei a superá-los”, concorda Evelyn.

Gabriel Fialho – Brasil2016.gov.br