Tenis de mesa paralímpico
Mais uma
Bola para o alto, medalha no peito: Brasil fatura o segundo bronze por equipes no tênis de mesa
A disputa é entre atletas tetraplégicos, todos com alta limitação de movimentos. As cadeiras de rodas ficam bem rentes à mesa de competição. Agora imagine uma bola bem alta, que quica pertinho da rede. O golpe, se bem aplicado, é fatal, porque o adversário não consegue se esticar até lá para rebater. Foi esta uma das principais armas da equipe brasileira na vitória emocionante contra a Eslováquia na disputa pelo bronze por equipes classes 1-2 neste sábado (17.09), no Pavilhão 3 do Riocentro. Iranildo Espíndola, Guilherme Costa e Aloísio Lima venceram os eslovacos - campeões em Pequim 2008 e Londres 2012 e vice-campeões em Atenas 2004, só para citar as últimas edições de Jogos – por 2 x 1.
“Em 1999, eu fui a uma competição internacional e joguei com atletas da Alemanha que faziam essa jogada o tempo todo. Aí eu fui estudar e ver que, na nossa categoria, essa jogada quase não existe, porque a gente joga parado, tem muita limitação, não tem muito equilíbrio. Aí eu desenvolvi uma técnica. Se eu não conseguia trocar muitas bolas com os caras, fui arrumar uma maneira de terminar logo o ponto. Consegui aperfeiçoar e tenho um apelido, rei do balão. Os adversários me temem por essa jogada e ela fez a diferença aqui”, explicou Iranildo.
Iranildo e Guilherme superaram Jan Riapos e Rastislav Revucky na partida de duplas no tie break (9-11, 11-8, 11-6, 4-11 e 11-5). Na sequência, Guilherme encarou Jan Riapos, dono de cinco medalhas paralímpicas, sendo quatro ouros. O brasileiro perdeu por 3 x 1 (3-11, 9-11, 11-8 e 9-11) e o bronze foi definido na partida entre Iranildo e Martin Ludrovsky.
O jogo decisivo
Iranildo ganhou o primeiro set, perdeu os dois seguintes e ficou pressionado para o quarto. Mas entraram em cena a experiência, a vibração clássica do goiano e a energia do público. O brasileiro venceu a quarta parcial e começou ganhando o tie break, mas deixou Ludrovsky virar, chegando a fazer 4-7. No tenso final, teve até cartão vermelho para o técnico eslovaco, que deu orientações fora de hora. Iranildo teve a tranquilidade para reverter a situação e conquistar a sonhada medalha. E não poderia ter terminado de forma diferente: com uma bela bola alta perto da rede, sem defesa para o eslovaco. Ficou 3 x 2 no jogo (11-6, 3-11, 9-11,11-7 e 11-8), 2 x 1 na disputa por equipes, e o bronze no peito. A França conquistou o ouro, e a Coreia do Sul ficou com a prata.
“Em 1999 fui a uma competição e vi atletas da Alemanha que faziam essa jogada. Aí eu fui estudar e ver que, na nossa categoria, essa jogada quase não existe, porque a gente joga parado, tem muita limitação. Com muito treino, consegui aperfeiçoar e tenho um apelido, rei do balão”
Iranildo Espíndola
Era a medalha que faltava à coleção do experiente jogador de 47 anos. “Eu sou o maior ganhador de Parapan- americano do tênis de mesa paralímpico, o maior ganhador de ouros em campeonatos internacionais do tênis de mesa paralímpico do Brasil. Faltava só essa medalha. Tenho que curtir e agradecer os meus colegas que acreditaram um no outro”, disse Iranildo.
Vitória da experiência, mas também da energia de Guilherme, 24 anos, que absorve no dia a dia dos treinos em Brasília a sabedoria do “velho” amigo. “Meu velho incendeia. Quando ele estava aqui, com a torcida, eu sabia que ninguém ia tirar isso dele. Só tinha que ser o ponto de equilíbrio na dupla para levantar ele quando estivesse nervoso e impulsioná-lo quando ele precisasse”, disse. “Sou o mais novo de nós três. A gente sempre acreditou na vitória por equipes. Chegamos aqui como a quarta melhor equipe do mundo e falei para o Iran: ‘a gente tem que corrigir isso’. Agora somos a terceira”, acrescentou.
Conquista ainda de quem não competiu nesta partida, mas que contribuiu com análises, orientações e que também divide a rotina de treinos e compartilhava a expectativa de uma medalha tão especial. “Nós somos três irmãos, estamos juntos praticamente todo dia. É muita cumplicidade, a gente batalhou muito, e trabalhou o lado psicológico no dia que antecedeu a partida. É uma magia incrível, ainda mais dentro da nossa casa com a torcida, não tem nem explicação. Quem sabe daqui a três anos eu consiga dimensionar o que eu estou sentindo agora”, disse Aloísio.
"A gente sempre acreditou na vitória por equipes. Chegamos aqui como a quarta melhor equipe do mundo e falei para o Iran: ‘a gente tem que corrigir isso’. Agora somos a terceira”
Guilherme Costa
Campanha histórica
Com mais este bronze, o tênis de mesa brasileiro encerra a participação nos Jogos Paralímpicos com quatro medalhas. Duas foram conquistadas em disputas individuais: Israel Stroh ficou com a prata na Classe 7 e Bruna Alexandre faturou o bronze na Classe 10. O outro pódio veio na competição por equipes do feminino nas Classes 6-10, também neste sábado, com Bruna, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos.
A modalidade, que antes tinha apenas uma prata paralímpica de Pequim 2008, obtida por Welder Knaf e Luiz Algacir na disputa por equipes, foi a terceira que mais conquistou medalhas para o Brasil no Rio 2016, junto com o judô (que teve quatro pratas). Um resultado que os atletas esperam que sirva de inspiração para que mais gente pratique o esporte. E que os investimentos sejam mantidos.
“Eu sou do esporte há 20 anos, passei por todas as dificuldades possíveis por falta de apoio e incentivo no começo. Eu me vi obrigado a abandonar a carreira, mas vi uma luzinha no fim do túnel. Se o esporte me devolveu a vida, eu não podia abandoná-lo. Fui insistindo e agora a gente teve uma estrutura extraordinária desde Londres 2012. Fui contemplado com a Bolsa Pódio e você tem que cumprir metas. Minha meta era o pódio, está realizado isso, cumpri minha obrigação de atleta, e espero que as pessoas continuem incentivando”, disse Iranildo.
“Esperamos que essa medalha seja inspiração, que as pessoas não vejam o ping-pong e comecem a ver o tênis de mesa, encarar como esporte e venham para essa batalha tão gostosa com a gente”, completou Aloísio.
Carol Delmazo, brasil2016.gov.br