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Atletismo

17/09/2016 17h40

Vela

Após disputar 11 edições das Paralimpíadas, o irlandês John Twomey anuncia a aposentadoria

Com a vela fora do programa de Tóquio 2020, o velejador, que ao longo da carreira conquistou um ouro e um bronze no atletismo e uma prata no tênis de mesa, quer se dedicar à família e passar suas experiências para os mais jovens

Para a maioria dos atletas, disputar uma edição dos Jogos Paralímpicos é um sonho a ser alcançado. Um projeto de vida que só se torna possível por meio de muito esforço, treino e dedicação. Uma medalha representa, sempre, a coroação de tudo isso. Mas independentemente de chegar ao pódio ou não, quem tem a chance de competir no maior evento paraolímpico do planeta certamente volta para casa levando experiências únicas e para toda a vida.

John Twomey (de verde), veleja na Baía de Guanabara ao lado dos companheiros Austin O’Carroll e Ian Costelloe: despedida dos Jogos após 40 anos dedicados ao esporte paraolímpico. Foto: www.paralympics.ie

Sendo verdade o que foi descrito acima, imaginar a riqueza de memórias e as histórias que o irlandês John Twomey carrega é um exercício complicado. Afinal, aos 61 anos ele pode olhar para trás e dizer, com orgulho, que disputou incríveis 11 edições dos Jogos Paralímpicos.

O velejador encerrou sua carreira neste sábado (17.9) ao competir na medal race (como é chamada, na vela, a prova que define o pódio) da classe Sonar ao lado dos companheiros Austin O’Carroll e Ian Costelloe. Sofrendo com as constantes mudanças de direção dos ventos na Baia de Guanabara nas 11 regatas disputadas no Rio, o trio terminou as Paralimpíadas na 13º colocação, apesar de ter cruzado a linha de chegada na medal race em quarto. Nada que afetasse o bom-humor de John, que anunciou sua aposentadoria feliz com o que viveu em toda sua trajetória paralímpica.

“Fui o porta-bandeira da Irlanda na cerimônia de abertura e foi uma honra para mim, para a vela, para a minha família e para o meu time. A cerimônia foi encantadora. Eu adorei cada minuto e com certeza vou guardar essa memória da cerimônia de abertura no Rio para sempre”
John Twomey, velejador

“Estou me aposentando. Esses são, definitivamente, meus últimos Jogos. Eu preciso passar mais tempo com minha família. Passei muito pouco tempo em casa nos últimos três ou quatro anos desde que começamos campanha para o Rio”, explicou o irlandês, nascido em 7 de julho de 1955 e que perdeu os movimentos da perna devido a lesão na coluna.

Arremesso de disco, tênis de mesa e vela

Se o fato de ter participado de 11 Paralimpíadas já é incrível, a história de John Twomey fica ainda mais rica quando se descobre que a vela não foi o único esporte no qual competiu nos Jogos. Na verdade, as três medalhas que ele conquistou não vieram de suas performances nos barcos.

John disputou os Jogos Paralímpicos pela primeira vez na edição de 1976, em Toronto, quando conquistou a medalha de prata no tênis de mesa. Em 1984, em Stoke Mandeville (na Inglaterra), ele faturou o bronze no atletismo, na prova do arremesso de disco, e, quatro anos depois, na mesma prova, chegou ao ouro em Seul 1988.

“Comecei em 1976, quando ganhei a medalha no tênis de mesa”, lembra John. Naquele ano, apenas 13 esportes fizeram parte do programa nos Jogos Paralímpicos. Bem diferente do Rio, que teve 23 modalidades. Para o irlandês, poder voltar 40 anos no passado e comparar sua primeira Paralimpíada com a do Brasil é motivo de satisfação, principalmente por ver como o movimento paraolímpico cresceu nas últimas décadas.

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John Twomey, como porta-bandeira da Irlanda na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016: emoção e honra. Foto: Getty Images

“Eu fiz parte do arremesso de disco nas Paralimpíadas por 20 anos, entre 1976 e 1996, e quando a vela se tornou parte do programa, em 2000, eu passei para  a vela e disputei as últimas cinco Paralimpíadas”, lembrou John, que em 1976 disputou, além do atletismo, o tênis de mesa.

“Posso dizer que foi uma longa carreira, mas que agora chegou ao fim. A quantidade de esportes cresceu dramaticamente desde 1976 até 2016. Lá atrás, a gente tinha atletismo, natação, basquete, tênis de mesa e alguns outros. Mas depois muitos esportes foram se integrando, como o ciclismo e a canoagem. É maravilhoso ver todas essas novas modalidades chegando”, diz o veterano.

Lembranças do Rio

Para John, é complicado eleger um ou dois momentos mais especiais de sua trajetória nos Jogos. Quando parou para pensar na pergunta, ele citou dois momentos rapidamente. Mas logo depois tratou de ampliar a resposta. “Eu acho que se pudesse escolher algumas como as mais especiais eu diria a do Canadá (em Toronto 1976) e, obviamente, ter ganhado a medalha (de ouro) em Seul também foi muito especial. Mas todas foram especiais. Cada uma delas é especial a seu modo, com seu próprio sabor”.

Nesse rol de lembranças marcantes, as experiências vividas no Rio, apesar de recentes, já estão devidamente guardadas em um lugar muito importante. “Fui o porta-bandeira da Irlanda na cerimônia de abertura e foi uma honra para mim, para a vela, para a minha família e para o meu time”, disse, emocionado. “Eu fiquei um pouco triste quando começou a chover em cima dos atletas, mas a cerimônia foi encantadora. Eu adorei cada minuto e com certeza vou guardar essa memória da cerimônia de abertura no Rio para sempre”, continuou.

“Eu fiz parte do arremesso de disco nas Paralimpíadas por 20 anos, entre 1976 e 1996, e quando a vela se tornou parte do programa, em 2000, eu passei para a vela e disputei as últimas cinco Paralimpíadas. Posso dizer que foi uma longa carreira, mas que agora chegou ao fim”

Um sujeito desapegado

Ao ser indagado se já havia comprado muitos presentes para guardar de lembrança do Rio 2016, o irlandês deu a seguinte resposta: “Eu já levei os mascotes para a minha família e vou levar mais alguns, inclusive o Tom. Eu estive aqui em junho, quando nós velejamos na Marina da Glória. Mas eu sou terrível. Eu dou tudo o que tenho. Minhas recordações eu acabo dando para as crianças. Eu dou praticamente tudo. Principalmente para as crianças. Acho importante encorajá-las com esse tipo de presente. Mas eu ainda tenho minhas duas medalhas, a de ouro e a de bronze. Mas eu não tenho mais a medalha do tênis de mesa (de prata), essa aí eu dei”, contou, como se fosse a coisa mais normal do mundo dar uma medalha conquistada nas Paralimpíadas de presente.

A informação causou estranheza. Como assim, deu sua medalha? Deu pra quem?

John sorriu. “Eu dei para alguma criança. Na verdade eu dou a maioria das minhas medalhas para as crianças deficientes que aparecem para ver as provas e ver o nosso esporte. A minha medalha do tênis de mesa eu nem sequer me recordo para quem eu dei. Eu acho que foi lá no Canadá mesmo. Como disse, a maioria das medalhas dos Campeonatos Mundiais e Europeus eu não tenho mais. Acho que tenho só umas cinco ou seis medalhas em casa. Mas todas estão guardadas na minha mente e no meu coração. São minhas conquistas, né? Mas eu acho que o mais importante é encorajar as crianças a praticar esportes. Se elas se envolverem com esportes dificilmente vão se envolver em problemas, não é?”

Sem vela em Tóquio 2020

O último dia de competições da vela no Rio 2016 foi marcante não apenas por ser a despedida da modalidade nas Paralimpíadas do Brasil. Para os atletas, havia um sentimento de nostalgia no ar pelo fato de que a modalidade foi retirada do programa paraolímpico dos Jogos de Tóquio 2020.

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O velejador Ian Costelloe conduz John Twomey na Marina da Glória: elogios à estrutura montada para a vela no Rio 2016. Foto: Getty Images

“Eu fiquei chocado com a notícia e muito desapontado quando soube, extremamente despontado eu diria”, declarou John Twomey, que espera que a vela possa voltar aos Jogos em 2024.

Realizado após 11 edições dos Jogos, John deixa o Rio satisfeito com tudo o que experimentou na capital fluminense. “Eu estive aqui na instalação da vela praticamente todos os dias e acho que tudo aqui funcionou muito bem. Ficamos bem confortáveis na Vila e só posso dizer que ficamos felizes com as acomodações, com as instalações da vela e só não ficamos felizes com o vento, pois não conseguimos decifrá-lo muito bem. Mas, tirando isso, todos nós tivemos uma grande experiência aqui no Rio de Janeiro”, avaliou John, que espera, agora, poder ajudar os mais jovens a seguir suas caminhadas no esporte.

“Minha experiência ficará disponível se alguém quiser aproveitá-la. Se eu for chamado, eu realmente gostaria de passar isso para os mais jovens. Estou à disposição para os atletas paraolímpicos que estão surgindo. Eu e minha equipe que está aqui estamos juntos desde a adolescência e todos eles são velejadores muito experientes. Temos muita coisa com esse time que pode ser passada para as gerações futuras”, afirmou.

Mas isso é um assunto para um futuro um pouco mais distante. Por ora, John Twomey só quer mesmo descansar. E curtir alguns momentos de turista. “Espero que nos próximos dois dias tenhamos a chance de ver um pouco mais da cidade além da Marina da Glória”, encerrou, sorrindo.

Brasileiros

No último dia de provas da vela foram disputadas três regatas medal race e as três tiveram brasileiros na raia da Marina da Glória.

Na classe Sonar, o time formado por Marcos Antônio do Carmo, José Matias Abreu e Herivelton Ferreira terminou a regata em 11º e fechou os Jogos na mesma posição na classificação geral. O ouro ficou com a Austrália. Os Estados Unidos levaram a prata e o Canadá, o bronze.

Na classe Skud18, os brasileiros Bruno Landgraf e Marinalva de Almeida terminaram a medal race em 9º e foram os oitavos na classificação geral. Austrália, Canadá e Grã-Bretanha levaram, respectivamente, o ouro, prata e bronze.

Por último, na classe 2.4mR, Nuno Rosa foi o 13º na medal race e o 16º na classificação geral. O francês Damien Seguin ficou com o ouro, o australiano Matthew Bugg levou a prata e a britânica Helena Lucas faturou o bronze.

Luiz Roberto Magalhães – brasil2016.gov.br