Você está aqui: Página Inicial / Notícias / A vitória pessoal e os desafios de Renan na busca por mais um pódio para o Brasil no vôlei

Volei

18/07/2021 06h58

TÓQUIO 2021 - ENTREVISTA

A vitória pessoal e os desafios de Renan na busca por mais um pódio para o Brasil no vôlei

Treinador da seleção masculina de vôlei relembra a luta contra a Covid-19 e avalia desafios que o time tem pela frente para chegar a mais uma medalha em Olimpíadas, agora em Tóquio

Desde os Jogos de Atenas, em 2004, o vôlei brasileiro tem sido sinônimo de alegria, orgulho e Hino Nacional para o Brasil quando o assunto são Jogos Olímpicos. Levando em conta as seleções masculina e feminina, o país sempre voltou para casa com um ouro nas últimas quatro edições. Venceu com os homens na Grécia e no Rio 2016 e com as mulheres em Pequim 2008 e Londres 2012. Por isso, o sarrafo dos torcedores é sempre alto em função da expectativa de grandes resultados na modalidade.

O técnico Renan comanda um treino em Tóquio. Foto: Miriam Jeske/COB

No vôlei masculino, em particular, a seleção comandada pelo técnico Renan Dal Zotto conquistou, neste ano, duas vitórias. A principal delas veio fora de quadra e a outra foi em ação, pela Liga das Nações.

“Eu tive um problema de saúde alguns meses atrás bastante grave. Fiquei internado, fui intubado duas vezes, fiz uma traqueostomia, perdi muito peso e para recuperar foi um trabalho intenso, diário e que precisou realmente de muito empenho. Perdi massa muscular, coordenação e tive que fazer todo um trabalho de recuperação para dar tempo de treinar os garotos depois da Liga das Nações. Hoje me sinto muito bem”

O maior triunfo do time foi acompanhar a recuperação de Renan, que travou e venceu uma batalha pessoal contra a Covid-19 e hoje lidera a equipe no desafio de brigar por mais um pódio, desta vez nos Jogos de Tóquio.

Renan testou positivo em meados de abril e ficou internado por 36 dias no Rio de Janeiro, período em que foi intubado duas vezes e passou por traqueostomia – procedimento cirúrgico feito por meio de uma abertura da parede anterior da traqueia, com o objetivo de dar ao paciente em estado crítico mais possibilidades de oxigenação.

Dentro de quadra, ele assistiu a distância a Seleção comandada por seu auxiliar técnico Carlos Schwanke sagrar-se, no dia 27 de junho, campeã da Liga das Nações pela primeira vez. O torneio foi disputado em Rimini, na Itália, e ajudou o elenco a ganhar ainda mais confiança e moral para o desafio olímpico.

Plenamente recuperado, o técnico desembarcou há poucos dias no Japão com todo o elenco brasileiro. Em Tóquio, ele terá pela frente o desafio de liderar a seleção em uma Olimpíada atípica por força da pandemia e marcada por um grupo duro na primeira fase. O Brasil terá como rivais a Rússia e a França, exatamente as seleções que foram responsáveis pelas duas derrotas que o time verde e amarelo sofreu na Liga das Nações na fase de classificação. O time encara, ainda, os Estados Unidos, Argentina e Tunísia.

Uma chave complexa, em especial porque, dos cinco primeiros colocados no ranking da Federação Internacional, apenas um, a Polônia, está na outra chave.  A lista da FIVB tem, nesta ordem, Brasil, Polônia, Rússia, França e Estados Unidos como as cinco seleções mais bem classificadas do mundo.

Por telefone de seu hotel na capital japonesa, Renan falou com exclusividade ao rededoesporte.gov.br. Ele lembrou os momentos e as consequências da internação, analisou o grupo e as chances do Brasil, detalhou a rotina de treinos e protocolos sanitários que ele e os jogadores passam diariamente em Tóquio e também disse que a decisão de disputar os Jogos sem público foi acertada. Acompanhe a entrevista e, ao fim, o calendário dos desafios do Brasil na primeira fase das Olimpíadas:

Jogos de Tóquio após a luta contra o Covid

Participar de uma Olimpíada sempre é prazeroso, um desafio enorme. Eu tive um problema de saúde alguns meses atrás bastante grave. Fiquei internado, fui intubado duas vezes, fiz uma traqueostomia, perdi muito peso e para recuperar foi um trabalho intenso, diário, e que precisou realmente de empenho, porque perdi muita massa muscular, coordenação. Tive que fazer todo um trabalho de recuperação para dar tempo de pelo menos treinar os garotos depois da Liga das Nações, que foi jogada em Rimini, na Itália, onde o Brasil foi campeão. Conseguimos treinar duas semanas e ali eu já consegui inserir quase que de forma ideal os treinamentos. Hoje já me sinto muito bem”.

A viagem para Tóquio

Comecei a minha viagem no domingo passado (11.07). Dormi uma noite em Frankfurt e na terça (13.07) eu encontrei toda a delegação na Alemanha e viemos juntos para Tóquio. Saí um dia antes para justamente poder descansar no meio e fazer alguma atividade e então foi bastante tranquilo. É sempre uma viagem desgastante, claro, mas com a ajuda da Confederação Brasileira de Vôlei e do Comitê Olímpico do Brasil a gente conseguiu fazer essa logística que me ajudou bastante.

“Nós estamos alojados em um hotel onde também só há delegações brasileiras, com todo mundo testando todos os dias. Todo dia pela manhã tem que testar, preencher um formulário, não dá para sair do hotel, e nem dá tempo para isso. Treinamos de manhã e à tarde exaustivamente, a moçada está super focada e atendendo diariamente todos os protocolos”

Reencontro com o time pós internação

Foi bacana. Eu saí do hospital no dia 21 de maio, no dia do primeiro amistoso contra a Venezuela, e eles viajaram dia 23. Saí do hospital fragilizado, na cadeira de rodas, no oxigênio, e não tive como encontrá-los antes da viagem. Vim direto para casa, um apartamento no Rio de Janeiro, e ali eu fiquei por quase 50 dias me recuperando, acompanhando os treinamentos. Hoje, graças às novas tecnologias, a gente tem acesso online a todo tipo de treinamento, reuniões e tudo mais, e então pude acompanhar de perto o dia a dia deles em Rimini (Itália) nas preleções e tudo mais e era sempre para mim um desafio cada vez maior melhorar o quanto antes para reencontrá-los. Foi muito legal na primeira vez que a gente conseguiu se falar pelas redes sociais, por uma call, foi emocionante. É um grupo muito bom. Nós estamos juntos há cinco anos e acaba que temos uma cumplicidade entre todos, a comissão técnica e os atletas. É um ambiente muito bom.

Primeiras impressões sobre os Jogos de Tóquio

Foi construído um centro de treinamento para a gente todo elaborado para atender às nossas necessidades do voleibol. Tem um ginásio e só o voleibol masculino treina naquela quadra e tem uma academia que o vôlei de praia também vai. Estamos alojados em um hotel onde também só há delegações brasileiras, com todo mundo testando todos os dias. Todo dia pela manhã tem que testar, preencher formulário, não dá para sair do hotel, e nem dá tempo para isso. Nós treinamos de manhã e à tarde exaustivamente. A moçada está super focada e atendendo diariamente todos os protocolos.

O grupo do Brasil e a estreia contra a Tunísia

A estreia é sempre um jogo tenso. É só lembrar a estreia do Brasil no Rio de Janeiro (em 2016), que foi contra o México. Acabamos perdendo o primeiro set e depois ficou uma tensão grande. E é a mesma coisa aqui. A Tunísia é uma seleção pouco conhecida do público brasileiro, mas é uma seleção que joga as principais competições internacionais. Claro que no ranking ela está mais para trás (o Brasil lidera o ranking das seleções e a Tunísia é a 16ª), mas a seriedade e o comprometimento têm que ser o mesmo com todas as seleções. Depois temos o segundo jogo contra a Argentina, e depois Rússia, Estados Unidos e França. É um grupo muito forte e temos que encarar cada jogo como se fosse uma grande final, porque até a pontuação é importante, a soma de pontos. Temos que dar o nosso máximo em cada bola.

“O Brasil vive um bom momento. E tem tudo para fazer uma ótima competição. Só que temos que encarar como se cada jogo fosse uma grande final, porque a competição não é tão longa, mas todo jogo é decisivo. Essa pressão, essa responsabilidade, existe. Mas usamos como combustível para continuar treinando cada vez melhor”

Brasil x Rússia

É difícil comparar um jogo separadamente dentro de uma competição. Naquele momento da Liga das Nações o Brasil vinha de bons resultados e com chances reais de classificação e acabou que não jogou bem contra a Rússia. A Rússia é uma das principais candidatas ao título aqui também, sem dúvida alguma. Rússia, França, Estados Unidos, Polônia, Itália e o Brasil. Acho que esses são os principais seis candidatos ao título, tendo a Argentina correndo por fora. A gente fala pouco da Argentina, mas é uma seleção que tem uma comissão técnica experiente, que conhece bem o voleibol brasileiro, e os jogadores jogam nos melhores times do mundo. É uma seleção competitiva. Todos os jogos vão ser decisivos. Claro que temos dois ali, contra a Rússia e a França, para quem perdemos na Liga das Nações, mas é uma nova história. É um novo jogo, um novo momento, e tudo pode acontecer dentro dos Jogos Olímpicos.

O favoritismo após o ouro no Rio 2016 e o título na Liga das Nações 2021

Isso aí nos alimenta a treinar mais, a buscar o nosso melhor todos os dias. O Brasil é o atual campeão olímpico, nas duas últimas competições internacionais se sagrou campeão, tanto na Copa do Mundo em 2019 quanto na Liga das Nações em 2021. Então o Brasil vive um bom momento e tem tudo para fazer uma ótima competição. Essa pressão e essa responsabilidade existem, mas usamos muito como combustível para continuar treinando cada vez melhor.

Olimpíadas sem torcida e sem familiares e amigos por perto

Infelizmente é uma decisão acertada. Digo infelizmente porque é muito bom jogar com público, com torcida e amigos dentro do ginásio torcendo e jogando junto. Mas para o momento que estamos vivendo foi uma decisão acertada. A gente não pode correr riscos. Estamos cheios de protocolos e a gente entende esse momento e respeita. Vamos fazer o nosso dentro de quadra como se estivesse com o ginásio lotado e torcendo pelo Brasil.

GRUPOS NO VÔLEI MASCULINO

A seleção brasileira está no Grupo B, ao lado de Estados Unidos, Rússia, Argentina, França e Tunísia. A chave A tem Japão, Polônia, Itália, Canadá, Irã e Venezuela.

PROGRAMAÇÃO (HORÁRIO DE BRASÍLIA)

23 de julho - 23h05 - Brasil x Tunísia
26 de julho - 9h45 - Brasil x Argentina
28 de julho - 9h45 - Brasil x Rússia
29 de julho - 23h05 - Brasil x Estados Unidos
31 de julho - 23h05 - Brasil x França

História e investimentos federais

Em Tóquio 1968, o vôlei entrou no programa olímpico simultaneamente no masculino e no feminino. Desde que estreou, a modalidade não mais deixou de ser olímpica. No masculino, o Brasil lidera o quadro de medalhas da modalidade, enquanto a União Soviética mantém o topo no feminino.

O Brasil conquistou dez medalhas olímpicas no vôlei de quadra. São cinco ouros, conquistados pela seleção masculina em Barcelona 1992, Atenas 2004 e Rio 2016 e pela seleção feminina em Pequim 2008 e Londres 2012. O país ostenta ainda três pratas (equipe masculina nas edições de Los Angeles 1984, Pequim 2008 e Londres 2012) e dois bronzes (com as mulheres em Atlanta 1996 e Sydney 2000).

No ciclo olímpico para os Jogos de Tóquio, o Ministério da Cidadania investiu R$ 12,85 milhões no vôlei por meio do Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro. Entre 2017 e 2021, foram concedidas 832 bolsas em todas as categorias para atletas da modalidade. Nas Olimpíadas do Japão, 16 dos 24 jogadores convocados entre os homens e as mulheres são contemplados pelo programa.

Luiz Roberto Magalhães, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br