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A vigésima é de ouro: Daniel Dias vence os 50m livre e chega a 20 medalhas paralímpicas
Em três edições dos Jogos Paralímpicos, Daniel Dias já somava 19 medalhas, sendo 11 de ouro, seis de prata e duas de bronze. Nesta segunda-feira (12.09), o Estádio Olímpico de Esportes Aquáticos lotado testemunhou o nadador aumentar sua coleção, chegando ao emblemático número de 20 medalhas paralímpicas. Depois de somar um ouro, duas pratas e um bronze no Rio 2016, a vigésima vez no pódio precisava ter um toque dourado. Exigência do próprio Daniel.
“Eu estava querendo mais de mim mesmo. Sabia que poderia mais e hoje dei esse mais que estava, sim, engasgado. Essa vigésima medalha tinha que ser de ouro”
Daniel Dias
“Eu estava querendo mais de mim mesmo. Sabia que poderia mais e hoje dei esse mais que estava, sim, engasgado. Essa vigésima medalha tinha que ser de ouro”, declarou o nadador, depois de vencer os 50m livre da classe S5 com o tempo de 32s78, suficiente para deixar para trás o vietnamita Thanh Tung Vo, prata com 33s94, e o norte-americano Roy Perkins, bronze com 34s42. Clodoaldo Silva, outro brasileiro na final, foi o sétimo, com 36s27.
O multicampeão não escondeu a emoção por voltar a pendurar uma medalha de ouro no pescoço, especialmente depois do terceiro lugar conquistado nos 50m borboleta S5. “Foi onde eu fiquei mais sentido”, admitiu. “A gente passa alguns momentos difíceis por nadar muitas provas, momentos emocionais, e hoje eu falei que queria dar uma alegria maior a essa torcida. Quando ganhei o bronze, me emocionei com o apoio que eles deram. Falei: ‘eles merecem, eu mereço e vamos cantar o hino juntos’”, contou o nadador, que cumpriu a promessa e ouviu o Estádio Aquático repetir cada frase do Hino Nacional com ele.
A torcida, por sinal, é algo que Daniel não cansa de elogiar. O atleta foi enfático ao creditar parte de seu sucesso no Rio 2016 à força que as arquibancadas têm proporcionado toda vez que ele cai na água. “Ontem foi nítido. Eu estava exausto, mas a cada respirada parecia que eles estavam falando: ‘vai, cara, vai’. No fim, quase consegui pegar o chinês. A gente tem sentido isso, essa vibração, esse estádio tremendo. Está sendo incrível não só para mim, mas para todos os brasileiros. Acredito que o esporte paralímpico nunca mais vai ser o mesmo após esses Jogos”, afirmou Daniel Dias.
A comemoração após a cerimônia de pódio também foi especial. Repetindo a cena protagonizada por Michael Phelps nos Jogos Olímpicos, Daniel quebrou o protocolo e subiu até a arquibancada para abraçar e beijar os filhos Asaf e Daniel. Segundo ele, no entanto, a comemoração não foi a la Phelps. “Foi a la Daniel Dias. Tenho dois filhos, ele tem só um. Estou ganhando dele nisso aí”, brincou o brasileiro.
Com cinco medalhas em cinco finais, Daniel Dias tem outras quatro provas para tentar estender seu legado e tentar se tornar o atleta paralímpico com o maior número de medalhas da história. Até o fim dos Jogos Rio 2016, ele disputa os revezamentos 4 x 100m livre e 4 x 100m medley 34 pontos, os 50m costas S5 e os 100m livre S5. Ele precisa manter os 100% de aproveitamento para superar o nadador australiano Matthew Cowdrey, dono de 23 medalhas paralímpicas.
Para chegar lá, Daniel conta com dois dias sem provas para conseguir descansar e estar inteiro quando voltar a cair na piscina. “Hoje senti os dias de competição. No final doeu muito e estou com dor até agora. Por isso quero aproveitar ao máximo esse descanso de amanhã (terça-feira) para poder voltar com tudo no revezamento. Aí tenho mais um descanso para poder nadar minhas provas individuais. Com esse programa de provas e dois descansos, vai ser muito bacana”, comentou.
Daniel volta a competir na quarta-feira (14.09) na final dos 4 x 100m livre 34 pontos. Na sexta (16.09), o brasileiro terá o revezamento 4 x 100m medley 34 pontos e os 50m costas S5. A última prova de Daniel no Rio 2016 serão os 100m livre S5, no sábado (17.09).
O bronze e o desabafo de Andre Brasil
Um momento de silêncio que durou quase meio minuto, tempo precioso em uma final da natação paralímpica. Mas foi esse tempo que o nadador veterano Andre Brasil, já relaxado após conquistar a medalha de bronze nos 100m borboleta S10 com a marca de 56s50, usou para responder o turbilhão de perguntas que viriam.
“Foi uma angústia. Eu disse que ia sair a medalha. Ela demorou um pouquinho mais do que eu esperava, mas dei tudo o que eu podia. Nos últimos 15 metros eu não aguentava mais nadar”, desabafou o atleta, que perdeu as primeiras posições para o mais novo campeão paralímpico e recordista mundial, Denys Dubrov (54s71), e o compatriota ucraniano, Maksym Krypak (54s90).
Até a manhã desta segunda, o recorde era do próprio Andre Brasil (55s99), que encara com naturalidade a perda da marca para Dubrov, que já o havia superado nas eliminatórias. “Esporte é renovação, é crescimento e querer mais. Aos 32 anos, continuo melhorando meus tempos, continuo evoluindo e longe de mim pensar em aposentadoria ainda. Vou seguir tentando melhorar sempre”.
“Esporte é renovação, é crescimento e querer mais. Aos 32 anos, continuo melhorando meus tempos, continuo evoluindo e longe de mim pensar em aposentadoria”
André Brasil
O experiente nadador, com três participações paralímpicas (Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016) e 11 medalhas (sete de ouro, uma de prata e três de bronze), deu sequência ao desabafo. “Quando você está na m... é complicado, e era assim que eu me sentia por ter pego dois quartos lugares. Mas quando a gente dá a volta por cima, aprende a agradecer aqueles que estão do nosso lado. Só posso agradecer aqueles que ainda acreditam, que me empurraram durante a prova, mesmo eu estando cansado”.
A comemoração de Andre Brasil após o pódio ocorreu de maneira peculiar. Ao receber a medalha, o brasileiro se dirigiu até a piscina e mergulhou o prêmio na água. “Eu sempre faço isso. É uma forma de agradecimento por esse momento. Hoje foi um dia em que os deuses da água conspiraram para que tudo desse certo. É um gesto simbólico que já faço há anos pelo simples fato de agradecer”, explicou.
Prata que vale ouro
Fechando as finais do dia, a nadadora Joana Neves conquistou a medalha de prata após uma disputa acirrada com a chinesa Li Zhang nos 50m livre S5. O tempo de Joaninha foi de 37s13, contra 36s87 da vencedora. “Foi uma experiência sensacional. Uma medalha de prata com gosto de ouro. Estou satisfeita com o meu resultado e a minha medalha”, disse a atleta do Brasil, acrescentando que continuará treinando para conseguir ocupar a primeira posição do pódio. “Ninguém é invencível. Todos nós temos a chance de fazer o nosso melhor. Para quem busca com dedicação, a hora sempre chega”.
Mesmo muito feliz e agradecida pela prata, Joana Neves fez a sua autocrítica. “Acho que não consegui ter uma saída tão boa quanto pela manhã, mas a medalha de prata é bem vinda e acho que não deixei a desejar. Agora é focar mais nos treinos para lapidar os erros”.
“Acho que não consegui ter uma saída tão boa quanto pela manhã, mas a prata é bem vinda e acho que não deixei a desejar. Agora é focar mais nos treinos para lapidar os erros”
Joana Neves
Xodó da natação, Joaninha repetiu a prata conquistada no revezamento 4 x 50m livre 20 pontos ao lado dos companheiros Daniel Dias, Clodoaldo Silva e Susana Schnarndorf. Além das duas medalhas, os vencedores ganham o mascotinho dos Jogos Paralímpicos, o Tom, com o cabelo personalizado de acordo com a cor da medalha. E as duas pelúcias recebidas pela atleta, até agora, já têm destino certo. “Uma é da minha filha e a outra é da minha mãe. Elas são as mulheres mais importantes da minha vida. Não vou ficar com nenhum porque já tenho as medalhas e a gente tem que aprender a dividir”, disse Joana Neves.
Talisson aguarda o bronze
Em sua primeira Paralimpíada, Talisson Glock não só conquistou a vaga para a final dos 200m medley, como está na briga pelo terceiro lugar do pódio. O brasileiro chegou em quarto lugar na final com o tempo de 2m44s94, mas, após a desclassificação do nadador colombiano Nelson Crispin, que havia batido em terceiro, Talisson chegou a ser anunciado como o medalhista de bronze da categoria. A premiação, porém, não foi realizada porque a Colômbia entrou com recurso.
“Não nadei pensando na medalha, nadei pensando em fazer o meu melhor e saio satisfeito da prova. A desclassificação ou não mostra que a medalha é consequência e, seja como for, eu fico contente com o quarto lugar”, disse jovem nadador de 21 anos. Sobre o motivo que levou o adversário a ser possivelmente desclassificado, Talisson explicou que, no estilo medley, muitas falhas podem ocorrer. “Pode ter sido uma pernada intercalada, uma virada errada, uma ondulação a mais. Agora é só esperar”, disse.
A noite dos recordes
Os nadadores brasileiros não foram os únicos inspirados nesta segunda-feira no Estádio Olímpico de Esportes Aquáticos. Em 16 finais disputadas, oito recordes mundiais e dois recordes paralímpicos foram quebrados.
Nos 400m livre S13, o bielorrusso Ihar Boki nadou em 3m55s62, conquistando o ouro e o recorde paralímpico. O ucraniano Dmitriy Horlin, bronze, estabeleceu o recorde paralímpico da classe S12 com 4m06s63. No feminino, a norte-americana Rebecca Meyers foi a primeira a quebrar um recorde mundial na noite, com o tempo de 4m19s59.
Depois de Meyers, a inspiração pareceu tomar conta dos atletas. O neozelandês Cameron Leslie venceu os 150m medley SM4 em 2m23s12, novo recorde mundial. Olga Sviderska, da Ucrânia, repetiu o feito na classe SM3 com o tempo de 2m54s14. Nos 50m livre feminino S11, a chinesa Li Guizhi é a nova detentora da melhor marca do mundo com 30s73.
Na prova em que Andre Brasil foi bronze, o ucraniano Denys Dubrov baixou a marca que ele mesmo havia estabelecido pela manhã ao completar os 100m borboleta S10 em 54s71. Entre as mulheres, Sophie Pascoe, da Nova Zelândia, é a nova recordista paralímpica com 1m02s65.
Michelle Konkoly, dos Estados Unidos, quebrou o recorde mundial dos 100m livre S9 com 1m00s91, enquanto Sascha Kindred e Ellie Simmonds, da Grã-Bretanha, superaram os melhores tempos do mundo nos 200m medley SM6 masculino e feminino, com 2m38s47 e 2m59s81, respectivamente. Por último, a chinesa Shiyun Pin encerrou a chuva de recordes mundiais ao cravar 28s41 nos 50m borboleta S7.
Valéria Barbarotto e Vagner Vargas - Brasil2016.gov.br