Você está aqui: Página Inicial / Notícias / A “prata mais dourada da vida” de Mateus Evangelista no Engenhão

Atletismo paralímpico

13/09/2016 16h36

Atletismo

A “prata mais dourada da vida” de Mateus Evangelista no Engenhão

Após fratura no fêmur há pouco mais de um ano, brasileiro tem recuperação impressionante e conquista vice-campeonato paralímpico no salto em distância T37

O Engenhão assistiu, na manhã desta terça-feira (13.09), a uma das mais impressionantes conquistas do atletismo brasileiro nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Com direito a quebra de recorde mundial no segundo salto, com 6.53m – marca que foi batida logo em seguida pelo chinês Guangxu Shang, campeão da prova com 6.75m –, o brasileiro Mateus Evangelista ficou com a prata no salto em distância classe T37 (paralisados cerebrais). O rondoniense, que há pouco mais de um ano fraturou o fêmur em um treinamento e teve que ser submetido a cirurgia, chegou a colocar em dúvida a possibilidade de seguir no esporte.

“Eu pensei que a minha carreira como atleta tinha acabado. Foi um trabalho espetacular junto aos meus fisioterapeutas, amigos e família. Eles me ajudaram em tudo. Hoje estou aqui com a prata, mas é a medalha de prata mais dourada que já recebi na minha vida”, comemora.

Mateus em dois momentos do salto que lhe rendeu a prata no Rio 2016. Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

Hoje vice-campeão paralímpico, Mateus relembra a batalha para se reestabelecer a tempo de disputar os Jogos. “Foram oito meses de recuperação. Eu tive que operar, coloquei uma haste de ferro e fiquei fazendo fisioterapia. Eram muitas dores. Voltei a treinar gradativamente, em maio, junho e julho, para fazer isso aqui. É impressionante, então agradeço a eles sempre”, diz.

“No segundo dia após a minha cirurgia eu já peguei a muleta, porque eu não queria desistir dos meus sonhos. Eu botei na cabeça que eu ia voltar, que ali era só um momento. Eu fiquei fora do Mundial de Doha, mas foi um momento que Deus guardou para mim e hoje descobri o que ele reservou”, afirma.

“Foram oito meses de recuperação. Eu tive que operar, coloquei uma haste de ferro e fiquei fazendo fisioterapia. Eram muitas dores, mas hoje estou aqui. Voltei a treinar gradativamente, em maio, junho e julho para fazer isso aqui. É impressionante”
Mateus Evangelista

Ídolo e companheiro de quarto

Para o atleta de  22 anos, o caminho até o pódio passou em grande parte pela convivência com o seu ídolo no esporte, o velocista Yohansson Nascimento, campeão e multimedalhista paralímpico. “Eu me espelho muito nele. Todo mundo aqui o conhece, ele é um atleta excepcional e um amigo, não tenho nem o que falar dele. Eu divido quarto com ele e em nenhum momento ele me deixou desanimar, me deu várias palavras de incentivo e essa medalha de hoje aqui é de todos nós”.

Campeão da mesma prova no Parapan de Toronto 2015, Mateus não se surpreendeu com as duas quebras de recorde seguidas. “Isso aqui é uma Paralimpíada, aqui estão os melhores do mundo. Eu fiz a minha melhor marca, cheguei até a bater o recorde mundial, mas o chinês também fez uma boa prova e acabou pegando o primeiro lugar”, lembra. “Eu gostaria que a bandeira do Brasil estivesse no lugar mais alto do pódio, hoje ela estava em segundo, mas na hora cantei o hino do meu Brasil. Enquanto a bandeira chinesa subia eu cantava o hino brasileiro porque fiz o meu melhor e saio daqui bem satisfeito”.

Escolhido pelo atletismo

Por falta de oxigênio na hora do nascimento, Mateus teve uma paralisia cerebral que prejudicou os movimentos do lado direito do seu corpo. Com a mão e a perna direitas sem movimentação total, entrou no esporte aos 13 anos. Experimentou diversas modalidades, como o tiro com arco e o futebol de sete, mas encontrou na modalidade que lhe rendeu sua primeira medalha paralímpica a verdadeira vocação. “Passei por vários esportes, mas foi o atletismo que me apaixonou. O que eu gosto de fazer é correr, é saltar. Não fui eu que escolhi o atletismo, foi o atletismo que me escolheu”, afirma.

Satisfeito com a medalha no peito e ansioso por uma pausa após a conquista, Mateus já projeta novos confrontos contra o seu algoz na competição. “Tenho certeza que, se eu treinar mais, ainda vou bater o recorde mundial desse chinês aí. Ele que me aguarde, ano que vem tem Mundial. Agora vou descansar, vou curtir a família, mas ano que vem vou voltar com mais foco e vou buscar essa medalha de ouro”.

Patrocinado com a Bolsa Pódio do Ministério do Esporte, o atleta, que já havia chegado em quarto lugar na prova dos 100m T47, ainda vai em busca de medalha nos 400m T37 no Rio de Janeiro, a partir das 10h30 da próxima sexta-feira (16.09).

Pedro Ramos, brasil2016.gov.br